domingo, 19 de outubro de 2008

Em Memória de Elefante, de António Lobo Antunes

"Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é teu corpo que não compreendo porque nos perdemos, a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio."
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